Camilla Muniz

     Vermelho é a cor mais fértil

   Entro lentamente na pintura abstrata, assim como já entrei no desenho bem figurativo. É um mundo emaranhado de gestos, traços e cor, apenas uma, aquela que mais representa o sangue, sangue da natureza, a minha natureza. Ele expressa em cor, em manchas, o que não soube transformar em palavras outrora. É o limiar da caverna que é o útero e dele vou (re)nascer. É isso, vou parir. Parir a mim mesma. É um nascer de novo. 

   Neste momento, me percebo questionando cada músculo e pele e gota de sangue que me compõe. Quiseram fazer de mim um corpo doador de óvulos, para reduzir o preço da fertilização. Quiseram fazer de mim um objeto. Impedi. Mudei a rota e não deixei. Sou um objeto que dói por dentro e resiste e sangra. Tenho falado muito de sangue e de sua cor: vermelho. Mas, como não recorrer ao líquido mais visceral, que desce pra lembrar que há esperança! Está diretamente relacionado à garganta. A cura se dará pelo grito!  

   A cor vermelha é símbolo de vida. É? Depende do ponto de vista. Sim, mas, só consigo enxergar esse ponto agora. 

   Essa escrita foi construída a partir de fragmentos diversos do livro Água Viva, de Clarice Lispector, desmontados e reconfigurados. 

     Vermelho é a cor mais fértil

   Entro lentamente na pintura abstrata, assim como já entrei no desenho bem figurativo. É um mundo emaranhado de gestos, traços e cor, apenas uma, aquela que mais representa o sangue, sangue da natureza, a minha natureza. Ele expressa em cor, em manchas, o que não soube transformar em palavras outrora. É o limiar da caverna que é o útero e dele vou (re)nascer. É isso, vou parir. Parir a mim mesma. É um nascer de novo. 

   Neste momento, me percebo questionando cada músculo e pele e gota de sangue que me compõe. Quiseram fazer de mim um corpo doador de óvulos, para reduzir o preço da fertilização. Quiseram fazer de mim um objeto. Impedi. Mudei a rota e não deixei. Sou um objeto que dói por dentro e resiste e sangra. Tenho falado muito de sangue e de sua cor: vermelho. Mas, como não recorrer ao líquido mais visceral, que desce pra lembrar que há esperança! Está diretamente relacionado à garganta. A cura se dará pelo grito!  

   A cor vermelha é símbolo de vida. É? Depende do ponto de vista. Sim, mas, só consigo enxergar esse ponto agora. 

   Essa escrita foi construída a partir de fragmentos diversos do livro Água Viva, de Clarice Lispector, desmontados e reconfigurados. 

   

   Camilla Muniz é Assistente Social, mestre em Serviço Social pela UFRJ e licencianda em Artes Visuais pela UERJ. Filha de compositor e desenhista, é artesã desde os seis anos de idade, desenhista desde a adolescência e ritmista desde 2012. Sempre amou o desenho, e mais recentemente, vem se aventurando na pintura abstrata, juntamente a um processo profundo de autoinvestigação, que passa também pela escrita.

   Camilla Muniz é Assistente Social, mestre em Serviço Social pela UFRJ e licencianda em Artes Visuais pela UERJ. Filha de compositor e desenhista, é artesã desde os seis anos de idade, desenhista desde a adolescência e ritmista desde 2012. Sempre amou o desenho, e, mais recentemente, vem se aventurando na pintura abstrata, juntamente a um processo profundo de autoinvestigação, que passa também pela escrita.